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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A gaguez

Muitas são as questões colocadas em torno da gaguez, através deste post espero esclarecer algumas dúvidas!
A gaguez atinge pessoas de todo o mundo, de diferentes origens e culturas. Só em Portugal, afecta, actualmente, 100 000 de todas as idades, tem maior prevalência  no sexo masculino (3/4:1). Ainda que, até à data, não tenha sido encontrada uma cura para a gaguez, isto não significa que não podemos fazer nada e que temos de ficar de braços cruzados, são diversos os exercícios terapêuticos, realizados por técnicos especializados, que permitem melhorar significativamente a fala de crianças, jovens e adultos que gaguejam.

Das inúmeras investigações realizadas sobre a gaguez, ainda não se chegou a um consenso sobre o que causará realmente esta patologia. Contudo, as pesquisas apontam para a existência de uma predisposição genética para o desenvolvimento da gaguez, indicando que sensivelmente em cerca de 40% a 50% dos casos diagnosticados com gaguez, há familiares com esta patologia comunicativa. Por outro lado, a evidência de factores psicossociais responsáveis pela persistência e complicação da gaguez aponta-nos para um problema de etiologia multifactorial.




A verdade é que não é necessário recorrer a uma definição para identificar uma pessoa gaga, mesmo sem conhecimentos e definições científicas, qualquer ouvinte consegue identificar facilmente um gago. E se, por um lado, todos nós já contactamos com um gago, também todos nós, em alguma fase da vida ou em alguma situação já experimentamos um ou outro momento de gaguez por diversas razões.

A gaguez apresenta uma grande diversidade nas suas manifestações, existem três tipos de interrupção:
  1. Repetições de sons (a-a-a-a-avó), de sílabas (ba-ba-ba-batata) e de palavras (sou-sou-sou eu);
  2. Prolongamentos de sons em início (aaaaavó), meio (bataaaaaaata) e fim (euuuuuu) de palavra;
  3. Bloqueios - pausas longas, com esforço muscular, podem ocorrer no início (.......... não quero), no meio (O .............. pai chegou) ou apenas numa palavra (ca.......belo).
A pessoa pode manifestar maioritariamente um destes comportamentos, no entanto é comum que se manifestem os três tipos, ainda que não simultaneamente, podem ocorrer na mesma frase. A gaguez pode ser classificada como ligeira, moderada e grave, estando esta classificação dependente da frequência e duração das interrupções da fala, do controlo que a pessoa tem sobre a fala e da tensão associada ao facto de falar.

É fácil perceber, que comunicar é um acto social e, afectando a gaguez todo o processo comunicativo, podemos de imediato verificar que gaguejar é muito mais que uma simples interrupção no fluxo normal da fala. A pessoa que gagueja apresenta ainda movimentos associados, quer na face como no resto do corpo. 

Na tentativa de ultrapassar um momento de gaguez há um aumento da tensão muscular, que afecta os músculos directa e indirectamente relacionados com a voz (face, ombros, pescoço, membros), e ao contrário do que se pensa esta tensão não diminui a gaguez, ao invés, aumenta e ainda provoca a ocorrência de movimentos involuntários.

Para além desta componente física, bastante evidente da gaguez, existe também uma componente psicológica e emocional muito forte. É importante o acompanhamento precoce de crianças com gaguez para que se consiga controlar o impacto desta componente ao longo da vida. Isto porque, gaguejar desenvolve emoções negativas, causa sentimentos de frustração, de irritação, de embaraço e, normalmente desta junção resulta o receio de falar.



A gaguez surge entre os 2 e os 5 anos, geralmente depois da criança ter iniciado a linguagem e ter sido fluente, durante os primeiros anos pré-escolares, a perturbação tem uma forte tendência a desaparecer espontaneamente. Os estudos indicam que o risco de consolidação aumenta dos 14 aos 18 meses desde o aparecimento.
São diversos os factores que podem alterar o desenvolvimento da comunicação, tanto as dificuldades da linguagem, habilidades motoras, linguísticas, sociais ou emocionais como as exigências dos interlocutores, pais ou familiares. Estas são as variáveis que influenciam os erros de fluência. A criança pode cometer erros, porque ainda não domina a coordenação dos órgãos, ou não recorda a palavra exacta, ou ainda porque sente-se insegura diante do interlocutor, reflectindo-se tudo isto numa fala hesitante.
Assim, torna-se necessário realizar uma avaliação nas crianças pequenas que começam a gaguejar ou então fazer um acompanhamento periódico que previna a consolidação do problema.




No caso dos adolescentes e dos adultos, o grau de alteração da fala costuma ser maior e mais estável do que nas crianças. Habitualmente a pessoa chega à consulta com uma grande preocupação e com uma longa história do problema. Ao chegar à idade adulta, os erros de fluência (bloqueios e repetições) aumentam em frequência e intensidade. É possível que venham ainda acompanhados de alterações fisiológicas (taxa respiratória baixa, tensão muscular, falta de ar). 
À medida que se foi instalando a dificuldade, podem surgir reacções emocionais associadas à falta de fluência. É frequente que os gagos experimentem grande ansiedade devido ao seu problema, uma vez que costuma afectar a sua vida diária em aspectos tão quotidianos como entrar num café para pedir uma água ou cumprimentar um amigo. Como consequência, a qualidade da sua relação social e comunicativa fica alterada.
A evolução da gaguez pode passar por ciclos irregulares de melhora e piora, resultado da multiplicidade de factores que a afectam (características da pessoa que gagueja, dos interlocutores, do espaço físico, sociais), o que leva a que não possamos estabelecer um padrão para a gaguez. Ela é diferente de pessoa para pessoa e, se para uns certa situação social é mais difícil, para outros a mesma situação poderá ser mais fácil.
Assim, factores como a pressão comunicativa do contexto, a atitude do interlocutor, o tema da conversação ou a emoção que sente enquanto fala podem alterar a fluência.

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