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domingo, 15 de maio de 2011

Surdez Infantil

O sistema auditivo humano é uma estrutura complexa responsável por receber, processar e interpretar a informação sonora.
Distinguir entre os diferentes tipos de surdez, ou melhor, de deficiência auditiva, é essencial devido ao facto de existirem diferenças importantes quanto às possibilidades educacionais e de intervenção.
A surdez infantil exerce um importante impacto sobre a comunidade, seja do ponto de vista económico, envolvendo altos custos na sua detecção e reabilitação, seja do ponto de vista psicossocial, não apenas para o próprio indivíduo, como também para a sua família e mesmo para a sociedade em geral. De facto, interfere de forma definitiva no desenvolvimento das capacidades verbais e de linguagem da criança, o que acarreta dificuldades de aprendizagem e efeitos negativos sobre a evolução social, emocional, cognitiva e académica. Torna-se assim fundamental conseguir um diagnóstico precoce, por forma a aproveitar a plasticidade do sistema nervoso central nas idades mais jovens.  




Assim podemos definir a surdez infantil bilateral como uma perda auditiva bilateral, caracterizada por limiares auditivos superiores a 40 decibéis (dB) no melhor ouvido, considerando as frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz sem recurso a prótese auditiva. Esta pode ser classificada quanto à data do seu aparecimento, grau e nível da lesão auditiva.

Em relação ao momento de aparecimento da surdez, as deficiências auditivas são classificadas de acordo com a aquisição da linguagem e da capacidade de leitura. A surdez pós-lingual surge quando a criança já fala e lê, não se acompanhando praticamente de regressão devido ao suporte da leitura. A surdez peri-lingual surge nas crianças que falam mais ainda não lêem, situação em que, se não existir um acompanhamento eficaz, ocorre uma rápida regressão da linguagem. A surdez pré-lingual é caracterizada pela total ausência de memória auditiva, sendo por isso extremamente difícil a estruturação da linguagem.

A deficiência auditiva não é um problema de tudo ou nada, a habilidade auditiva é uma faculdade prejudicada em maior ou menor medida em todos os indivíduos, sendo que varia com a idade. Assim, quanto ao grau, podemos classificar como:
  • Deficiência auditiva ligeira: a perda situa-se entre os 20 e os 40 dB. As crianças com esta perda percebem a fala e aprendem a falar espontaneamente de forma correcta. Em alguns casos, são a origem de algumas dificuldades de aprendizagem.
  • Deficiência auditiva moderada: a perda situa-se entre os 40 e os 70 dB. A criança consegue perceber a fala e desenvolver a linguagem embora com algumas alterações. Nestes casos o aparelho auditivo e a intervenção terapêutica são fundamentais para uma escolarização sem problemas.
  • Deficiência auditiva severa: a perda situa-se entre os 70 e os 90 dB. A linguagem não é aprendida espontaneamente, sendo necessário amplificação e intervenção terapêutica para o desenvolvimento desta.
  • Deficiência auditiva profunda: a perda situa-se entre os 90 e os 120 dB. Não é possível perceber a linguagem por via auditiva. A educação especial e amplificação são indispensáveis.
  • Deficiência auditiva total: perdas superiores a 120 dB. Nestes casos a aquisição da linguagem transforma-se numa aprendizagem intencional especializada.

Por último podemos classificar a surdez infantil segundo o nível lesional:
  • Surdez de Transmissão ou Condução - é problema de intensidade insuficiente, não estando associada a distorção auditiva. É muito frequente nas crianças. Quando pura, não provoca perdas superiores a 60 dB. As etiologias mais importantes são adquiridas, nomeadamente as otites seromucosas, os rolhões de cerúmen, os corpos estranhos e as otites crónicas.
  • Surdez de Percepção ou Neurossensorial - deve-se a lesão coclear ou retrococlear e está associada a uma distorção dificilmente compensável da sensação auditiva. Constitui uma causa mais frequente de surdez profunda.
Podemos ainda falar nos factores de risco de surdez infantil e dividi-los em dois grupos:
- Neo-natais:
  • História familiar de surdez;
  • Infecções congénitas;
  • Malformações anatómicas da cabeça e pescoço;
  • Baixo peso (< 1500g);
  • Hiperbilirrubinemia grave;
  • Estigmas de síndromes associados a surdez;
  • Uso materno de drogas ou ototóxicos;
  • Asfixia peri-natal com APGAR <4;
  • Internamento UCIN;
  • Traumatismo Crânio-Encefálico no parto;
- Durante a infância > 3 meses:
  • Meningite bacteriana, encefalite, labirintite;
  • CMV peri-natal;
  • Trauma acústico;
  • Traumatismo Crânio-Encefálico;
  • Ototóxicos;
  • Historia familiar;
  • Otites médias repetidas com derrame.


Dois factores muito importantes quando falamos de deficiência auditiva são o momento de detecção e o momento de início da intervenção. Seria desejável conhecer o momento em que se adquire a deficiência auditiva, sobretudo quando é súbita e acontece nos primeiros 10 meses de vida. Este dado é de máxima importância em perdas adquiridas, uma vez que o tempo que passou despercebida será precioso e perdido para a reabilitação.
Em perdas profundas deve-se começar a intervenção o mais cedo possível, sendo desejável que não haja intervalo, sem intervenção, pois poderiam perder-se as aquisições linguísticas adquiridas que, embora a criança não as manifeste, estão presentes.
Por isso é importante o acompanhamento de um Terapeuta da Fala para que a criança realize as aquisições necessárias ao longo do seu desenvolvimento e não haja uma deterioração de capacidades.

Fonte: Oliveira, Castro & Ribeiro, 2002.

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